26 de mai. de 2013

INVENTANDO MODA: A ATUAÇÃO DO MODELISTA NO MERCADO DE CONFECÇÃO



Segundo Treptow, “a modelagem está para o design de moda assim como a engenharia está para a arquitetura” (TREPTOW, 2005). Neste meu primeiro post apresento a observação que a professora e escritora Doris Treptow faz sobre a modelagem em seu livro Inventando Moda. Pretendo discorrer, de forma sucinta, sobre as tecnologias e requisitos técnicos exigidos para atuar como modelista neste novo mercado de confecção. Neste atual mercado, o modelista deve entender e compreender as ferramentas e ter os conhecimentos necessários para realizar seu trabalho de forma consciente, objetivando resultados mais satisfatórios.

O processo de modelagem no setor de confecção vem exigindo um alto nível de qualificação. Com o avanço das tecnologias e a crescente onda de industrialização por parte das pequenas empresas no setor de confecção, observa-se que vem sendo inseridos na grade curricular do profissional de modelagem, conhecimentos que anteriormente não eram levados em consideração ou não “tinham aplicação direta” com sua área de atuação.



Estes novos conhecimentos e pré-requisitos auxiliam no desenvolvimento da modelagem, ampliações e mapas de corte. Ajudam o modelista na aplicação, relacionando as tecnologias que serão aliadas aos processos de modelagem plana ou no processo de moulage.

O trabalho do modelista contempla as etapas de desenvolver uma base de acordo com as características de seu público, interpretar o modelo de acordo com o desenho do designer, acompanhar o processo da confecção do piloto ou protótipo, ajustar o molde de acordo com as necessidades do corpo e executar a graduação dos moldes.

Neste processo o modelista deverá interagir com o designer, costureiras e cortadores, fazendo uso de normas técnicas, tabelas de medidas, além de e implementar uma visão ergonômica aliada aos softwares e tecnologias que auxiliam de forma direta e indireta no processo de produção.

Estes novos processos de produção e a crescente onda tecnológica, ou melhor, a disseminação destas tecnologias para as pequenas empresas, irá exigir qualificação, reciclagem ou reaprendizado para que os modelistas e profissionais que atuam neste mercado possam interagir, implantar e empregar de forma multidisciplinar esta novas tecnologias. Esta multidisciplinariedade tem como objetivo relacionar de forma consciente e inteligente os conhecimentos de: relação interpessoal, desenho, matemática aplicada, história, geometria, antropometria, ergonomia, modelagem, moulage, costura, informática, CAD, corte, PCP e outras disciplinas.

O atual desafio do modelista será o de relacionar e interagir com um vasto repertório de conhecimento, buscando sair na frente empregando de forma sistemática e inteligente as tecnologias ao processo de modelagem.






Por Dênis Fortunato Fraga

TIPOS DE MODELAGEM: PLANA OU MOULAGE?





Escolha depende do tipo de produção, além do perfil do modelista e da sua formação técnica e profissional

Existem dois tipos de modelagem: a plana (bidimensional) e a moulage (tridimensional). Na apostila Modelagem: ferramenta competitiva para a indústria da moda, o Sebrae traz informações sobre estes dois estilos.

A escolha por uma das opções normalmente depende do tipo de produção, além do perfil do modelista e da sua formação, técnica e profissional. Vamos conhecer as principais diferenças entre elas?

Modelagem Plana (bidimensional)

É uma técnica utilizada para reproduzir, em duas dimensões, algo que será usado sobre o corpo humano, em tecido ou similar, de forma tridimensional. Essa modelagem, manual ou computadorizada, pode ser utilizada para confeccionar uma peça de roupa apenas ou para produção em grande escala - como acontece na confecção industrial de pequeno, médio ou grande portes.




Fonte: Reprodução

Moulage (tridimensional)

É a manipulação do tecido de forma tridimensional. Trabalha-se com o tecido sobre os manequins, que têm suas medidas padronizadas. Na moulage, podem ser feitos os ajustes direto nas curvas do corpo, resultando em um caimento perfeito.




Fonte: Reprodução


Fonte: Modelagem: ferramenta competitiva para a indústria da moda/Sebrae

HOMEM E TECIDO: EVOLUÇÃO E RELACIONAMENTO





Originário do latim, texere significa o hábito de entrelaçar diversos tipos de fios na horizontal (a trama) e na vertical (o urdume). Os antigos egípcios já teciam as fibras do linho que compunham suas vestes e esse relacionamento homem/tecido se desenvolveu ao longo dos séculos.

Na Grécia homérica, o fio de Moira, a grande tecelã. Também a lenda grega de Aracne, que se faz valer como tecelã que confia nas suas habilidades, desafiada por Atena que num concurso de tecelagem transforma Aracne em aranha, punindo-a por tecer melhor.

Os fios tramam contextos, histórias, arrematando elos de nossa cultura. Mas o que seria um tecido? A princípio o que nos vem à mente é um pedaço de pano com variações de cores, formas e texturas.



Imagem: Livro Fashion Design - Manual do estilista



Por meio de seus signos como roupastrajesmoda e utilitários, o tecido é um dos mais fortes e antigos meios de comunicação da humanidade. No século XVII, em função do seu alto valor, era considerado um bem de luxo, figurando como herança de testamento. O alto valor era justificado pela demorada execução, passando de fibra à tecelagem.

Desde a pré-história, o homem procurou aperfeiçoar a produção de objetos que satisfizessem suas necessidades básicas. Onde colocar os frutos colhidos das árvores? Qual a melhor maneira de armazenar a comida e carregar filhotes e caças? O que fazer quando a neve e o sol afligiam seus corpos?

Essas indagações fizeram com que o homem das cavernas criasse um espaço mais amplo, no qual desenvolvia objetos e utilitários com formas toscas, porém adequados às suas necessidades. Nosso ancestral resolveu juntar, literalmente, os pauzinhos – gravetos, folhas secas, fibras – e foi armando, cruzando e entrelaçando esses elementos até criar objetos para seu uso doméstico e pessoal. Nascia a cestaria e dela surgiu a tecelagem.

Cronologicamente o linho é a fibra têxtil mais antiga, datada em cerca de 10.000 a.C. na Mesopotâmia e Egito. A lã cerca de 7.000 a.C. nos povos da Mesopotâmia. Em seguida o algodão, detectado em filamentos nas civilizações antigas do Paquistão e da Índia cerca de 3.000 a.C. A fibra natural menos antiga é a seda, datada em torno de 2.700 a.C. na China.

Por volta de 1270 da Era Cristã, a tecelagem era um trabalho exclusivamente feminino. Posteriormente a ciência e a tecnologia trouxeram técnicas têxteis mais vigorosas nos séculos XVIII e XIX, num movimento de industrialização da tecelagem. Hoje, em pleno século XXI, alguns aspectos da tecelagem apresentam-se como verdadeiras obras de arte

Fonte: Livro Moda - Desde o século XVIII ao século XX


Durante toda a trajetória do homem e do tecido, o ato de cobrir-se ou embalar-se foi relacionado ao adorno, proteção, conforto, simbologias ou costumes. A história fala das primeiras embalagens do corpo - embalagens como símbolo de invólucro externo. Isso é mais antigo do que se imagina, pois a imagem bíblica de Adão e Eva, que tem significados que vão além da história da maçã, marca uma fronteira entre o homem-animal e o homem-pensante.

O tecido é, sem dúvida, uma identidade cultural - com raízes histórias que apontam para povos de diferentes épocas, desvendam modos de viver e traçam um peculiar mapa geográfico.



Por Roberto Rubbo

DIAGRAMA OU BASE: APLICAÇÃO NA CRIAÇÃO DO MOLDE

Neste terceiro post vamos falar um pouco sobre o processo de modelagem de vestuário, mais precisamente sobre o diagrama (também chamado de base) e sua aplicação no processo de criação do molde para a indústria de confecção.

O diagrama é uma estrutura composta de retas e curvas desenvolvidas através de cálculos matemáticos com o objetivo de representar, de forma gráfica, a planificação do corpo. Nesta estrutura o profissional de modelagem interpreta e representa o modelo que foi projetado pelo designer ou estilista. Cós, espelhos, forros, comprimento da peça, presilhas, marcações de botões, casas e todas as informações que são inerentes ao molde serão representados na superfície desta base.

Para o desenvolvimento da base, o modelista deverá executar um estudo antropométrico - que tem como intuito conhecer e mensurar as medidas do corpo do público ou cliente que se quer atender. Através deste estudo o modelista cria uma tabela de medidas, na qual é possível encontrar as medidas de circunferência, altura, estatura e comprimento, que dão suporte para a criação de acordo com as necessidades e características do cliente.



Imagem: Reprodução

A base tem a intenção de representar, de forma sistemática, todas as formas do corpo. Mas não devemos esquecer que ela deverá ser pilotado e testado inúmeras vezes, objetivando conseguir um resultado satisfatório no quesito estético, além de ser desenvolvido de acordo com as especificações de elasticidade do tecido, textura, espessura e o caimento do tecido.

Ferramenta fundamental para a modelagem, a base dá suporte para o modelista, além de ser uma estrutura que pode ser utilizada nas plataformas de softwares e CAD. O livro
O pulo do gato – Método de Planificação do Corpo apresenta uma base de vestuário mais complexa, cujas linhas de construção têm a pretensão e objetivo de representar as curvaturas do corpo de forma mais precisa.



Imagem: Reprodução/Dênis Fraga

Na Figura 2 é possível visualizar uma base um pouco mais simples, que desenvolvi para o curso de Tecnologia em Design de Moda do Campus Muriaé.

Por Dênis Fraga

PESQUISA NA MODELAGEM AUXILIA A EVITAR ERROS



A modelagem é uma das fases mais importantes do processo de produção de uma roupa. É nesta fase  de leitura e planificação do croqui que a peça começa a ganhar forma, identidade e até novas numerações.

Não basta saber desenhar, o modelista precisa estar atualizado com as tendências de fit, de volume, de novos tecidos no mercado e de comportamento. Antes de começar a traçar as modelagens, é necessário estudar todas as fibras que serão usadas na coleção. Analisar o movimento, o caimento, o estiramento, o encolhimento e a costurabilidade das fibras.

Imagem: Blog Cecilia máquinas de costura


Além disso, outros tecidos que compõem a peça precisam ser estudados e testados para evitar transtornos durante a produção ou após a venda. A análise do forro, aviamentos, acabamentos e até as lavagens podem reduzir as falhas na produção.

Outro ponto importante é o consumidor que está mais exigente e busca peças que proporcionem conforto. Para garantir essas qualidades, é importante conhecer o público-alvo e o corpo do consumidor que vai vestir a peça para desenhar um produto confortável.

Só depois de analisar todas essas variáveis é que o modelista deve partir para o desenho no papel ou em um CAD de modelagem.

PLANEJAMENTO E CONTROLE DA PRODUÇÃO DE CONFECÇÃO


Garantir que os recursos produtivos estejam disponíveis na quantidade, no momento e no nível de qualidade adequados. Estes são alguns dos principais objetivos do Planejamento e Controle de Produção de Confecção (PCP) - setor que faz a ligação entre a área estratégica, tática e operacional nas empresas de confecção, conciliando o planejamento estratégico da empresa com as atividades desempenhadas diariamente no “chão da fábrica”.

Quando desenvolvido de forma correta, o Planejamento e Controle de Produção de Confecção traz uma série de resultados positivos, como altos índices de produtividade e qualidade, menor índices de falhas, menor custo de produção, entre outros.

Na
wiki do Instituto Federal de Santa Catarina encontramos o seguinte definição:
… [O PCP pode ser] definido como um meio, um apoio para a produção e compras
cumprirem suas finalidades de acordo com vendas. É um apoio de coordenação e não um apoio especializado. O PCP precisa entender um pouco de tudo e se envolver em quase todos os problemas da indústria. Seu enfoque é global.
É ele quem dirige e controla o suprimento de material e as atividades de processamento de uma indústria, de modo que os produtos especializados sejam produzidos por métodos preestabelecidos para conseguir um programa de vendas aprovado; essas atividades são desempenhadas de tal maneira que recursos humanos, facilidades industriais e capitais disponíveis são usados com a máxima vantagem.

Na apostila produzida para o
curso técnico de Moda e Estilo, o Planejamento e Controle de Produção de Confecção é comparado com o sistema nervoso no corpo humano. Na área de confecção, seu objetivo final é a organização de suprimento e movimentação dos recursos humanos, utilização de máquinas e atividades relacionadas, de modo a atingir os resultados de produção desejados em termos de quantidade, qualidade e prazo.

Na wiki encontramos, também, pré-requisitos indispensáveis para o Planejamento e Controle de Produção de Confecção. Entre eles, destaque para o conhecimento detalhado do produto acabado (sua constituição, como e onde ele é produzido), conhecimento do roteiro da produção, existência de facilidades industriais e de recursos financeiros compatíveis com o programa de vendas acertado, além do planejamento da capacidade.

Conforme o documento, existem três tipos de PCP, que podem ser utilizados em diferentes enfoques da produção:
  • PCP por fluxo: para produção contínua;
  • PCP por ordem: para produção intermitente;
  • PCP para projetos especiais: para produção de pedido de produtos fora de linha.

Fonte: Instituto Federal de Santa Catarina/Unidade Araranguá

Plotter têxtil: 5 vantagens do risco automatizado 


Nas confecções, o risco pode ser realizado de forma manual ou automática, com grandes vantagens do sistema automático. No processo automatizado, depois de desenvolver o molde no computador ou digitalizá-lo, o modelo é reproduzido em um plotter têxtil - espécie de impressora que produz desenhos em grandes dimensões.

Etapa fundamental no processo produtivo, o risco dá início à definição do encaixe da modelagem e aproveitamento de tecido, do forro e das entretelas começam a ser definidos.

 Reprodução


Ele dá origem à folha matriz (folha riscada com os moldes para corte) ou risco marcador - marcação realizada em uma folha de papel da largura do tecido e do comprimento da mesa de corte ou do enfesto. Os moldes são encaixados sobre o papel de modo a otimizar ou melhor utilizar a largura do tecido e comprimento da mesa.

Confira, abaixo, algumas características do risco manual e do risco automático:

Risco manual (direto no tecido ou sobre o papel)
- Lentidão na execução;
- O giz não se apaga;
- Tecido com elastano deforma o risco;
- Não permite cópias.

Risco Automatizado (uso de plotter têxtil)
- Economia de tempo;
- Permite manter uma cópia fiel do original;
- Arquiva os moldes para que se mantenham em perfeito estado;
- Largura de impressão na medida ideal;
- Qualidade na impressão dos riscos;
- Permite que o operador mantenha-se adiantado à produção dos enfestadores.

Fontes: Apostila de Costura do IFSC e Monografia da UFJF

FICHA TÉCNICA: DESCREVENDO O MODELO PARA A CONFECÇÃO


Etapa fundamental da produção, a ficha técnica serve de base para diversos setores da confecção, como modelagem, pilotagem e PCP.

Na fase de desenvolvimento técnico do produto é produzida a ficha técnica com os dados da peça. Neste documento, além do desenho técnico, o detalhamento descritivo do produto é disponibilizado – facilitando o trabalho de interpretação do modelo.

É na ficha técnica que todas as especificações da peça são disponibilizadas. Com os dados da ficha é possível fazer uma estimativa do material necessário para a confecção de uma determinada peça ou coleção, reunindo dados sobre a quantidade e tipo de tecido, grade de tamanhos, aviamentos, entre outros detalhes da peça.

Também é na ficha técnica que o modelista encontra as informações necessárias para interpretar a peça, desenvolvendo a modelagem de acordo com a proposta do estilista ou designer.

Abaixo, uma breve descrição de algumas informações que podem constar na ficha técnica: 
  • Cabeçalho: refere-se ao nome da peça, a coleção, a referência, a data, uma breve descrição e tudo o que pertinente à denominação do produto.


  • Desenho técnico do modelo: de frente e costa, se necessário lateral.




·         Dados dos materiais: podem ser divididos em principais e secundários, aviamentos e materiais de adornos em geral.



Outras informações podem ser disponibilizadas na ficha técnica, dependendo da necessidade e do perfil de cada confecção

Fonte: Clube Audaces/Desenho técnico: Vanessa Gonzato


Classificação dos aviamentos: função e visibilidade

Juntamente com os tecidos, os aviamentos são fundamentais na confecção de uma roupa. Além da utilidade, muitas vezes servem como elementos decorativos – garantindo um grande nível de detalhamento nas peças.

Em função desta dupla utilidade, podem ser classificados quanto à função e quanto à visibilidade na roupa. Quanto à função, podem ser componentes ou decorativos. Quanto à visibilidade, aparentes ou não aparentes, conforme mostra a tabela abaixo – publicada originalmente no livro Inventando Moda.



Crédito imagem: adaptado do livro Inventando Moda

Para evitar confusão na compra – que normalmente é conduzida por um setor específico, não pelo estilista – é importante que cada aviamento esteja identificado e catalogado, com uma codificação que seja compreensível para a equipe.

No livro, Doris Treptow explica que a codificação é organizada pela engenharia de produtos, através de um catálogo onde é anexada uma amostra do aviamento, seu código e sua descrição pormenorizada, especificando inclusive as cores em que o mesmo pode ser adquirido.

Para exemplificar ela apresenta o seguinte esquema:



Crédito imagem: adaptado do livro Inventando Moda


É importante, também, que todos os aviamentos utilizados em uma peça sejam listados na ficha técnica do produto, assim como o respectivo consumo por peça. Através deste documento, o PCP (Planejamento e Controle da Produção) pode transmitir ao setor de compras a quantidade que deve ser adquirida para atender a coleção que vai entrar em produção.

Fonte: Inventando Moda